Jorge Correa Santos/UEL
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O Hospital Universitário da UEL foi notícia nos últimos dias por restringir atendimentos. |
Os hospitais universitários -chamados de HUs - do Paraná foram
notícia nos últimos dias por causa de dificuldades e problemas:
restrição no atendimento em Londrina, a fila para cirurgias eletivas em
Cascavel e superlotação em Maringá. Tudo consequência da falta de
dinheiro, de funcionários e de estrutura. Todos os dias são como
quebra-cabeças para os gestores desses hospitais, que precisam atender a
população e ainda cumprir a missão de ensinar e formar profissionais.
O
Paraná tem onze hospitais universitários credenciados junto à
Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino (Abrahue).
Os principais deles - todos públicos - são o Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba; o Hospital
Universitário de Londrina, da Universidade Estadual de Londrina (UEL);
Hospital Universitário de Maringá, da Universidade Estadual de Maringá
(UEM); e o Hospital Universitário de Cascavel, da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná (Unioeste).
Segundo o presidente da Abrahue,
Carlos Alberto Justo, as dificuldades financeiras estão ligadas à
dependência dos recursos vindos do Sistema Único de Saúde (SUS). Os HUs
são referência em atendimento e recebem uma grande quantidade de
usuários. Uma série destes pacientes é submetida a tratamentos de alto
custo e, paralelamente, a tabela dos valores pagos por estes
procedimentos está muito defasada. "Isso faz com que haja
subfinanciamento do sistema e os hospitais ficam vulneráveis. Aliado a
isto acontece a falta de reposição de vagas. Há também a carência de
autonomia administrativa para atender a demanda que a sociedade impõe",
comenta. Ele lembra que algumas instituições tentaram driblar o problema
das contratações com o apoio de fundações, como ocorreu no HC da UFPR.
"Mas a Justiça proibiu essa válvula de escape e isto trouxe mais um
problema", afirma.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Miguel
Ibraim Abboud Hanna Sobrino, acredita que toda a sociedade deve se
envolver para resolver o problema dos hospitais universitários. "Os
investimentos devem ser ofertados para as condições ideais, e não
somente para as condições mínimas", analisa.
Programa visa sanar déficit milionário das instituições
Fábio Dias/O Diário do Norte do Paraná
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No HU da Universidade de Maringá, um dos problemas é a superlotação. |
Uma comissão interinstitucional foi criada para conhecer e analisar a
situação dos hospitais ligados às universidade públicas federais. O
diagnóstico apontou que os 46 hospitais universitários operam com um
déficit anual de R$ 220 milhões e têm 1.124 leitos desativados por falta
de condições estruturais e de recursos humanos. Diante desse raio-X,
foi instituído em janeiro deste ano o Programa Nacional de
Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf). Será feito
um empréstimo pelo Ministério da Educação junto ao Banco Mundial de R$
750 milhões, que serão aplicados nas instalações físicas. O
financiamento será de 50% do MEC e 50% do Ministério da Saúde. Também
haverá ações para renovação do parque tecnológico e recomposição do
quadro funcional.
Para a diretora-geral do Hospital de Clínicas
(HC) - único hospital universitário federal no Paraná -, Heda Amarante, o
plano é muito bem-vindo. O único receio dela se refere aos recursos
humanos, o maior problema do hospital paranaense. São 2,7 mil servidores
públicos e 1,1 mil funcionários contratados por meio da Fundação da
Universidade Federal do Paraná (Funpar). Hoje, o déficit é de 600
trabalhadores.
No entanto, Amarante tem um grande empecilho: a
determinação de tirar os contratados em regime CLT, caso da Funpar. Ela
não pode demitir os 1,1 mil funcionários nesta situação, por gerar um
grande problema social e também porque o hospital simplesmente pararia
de funcionar. Para resolver o problema, a diretora precisaria de um
concurso público com 1,7 mil vagas. "Não há liberação de vagas há muito
tempo. Só houve contratação nos últimos tempos de 75 profissionais para o
setor de transplante de medual óssea, mediante ação judicial. Todas as
demais áreas têm falta de gente".
O problema ainda passa pela não
substituição dos servidores que se aposentam, são afastados ou que
falecem e a restrição no pagamento das horas-extras. O próprio HC é
responsável pelo pagamento dos salários dos funcionários contratados
pela Funpar e dos trabalhadores terceirizados que atuam em cargos de
extinção no setor público, mas que são essenciais no dia a dia (copa,
cozinha, transporte, segurança, recepção, lavanderia e infraestrutura).
(JC)
Falta pessoal em Cascavel e Maringá
Para o diretor-superintendente do HU de Londrina, Francisco Eugênio
de Souza, a maior dificuldade é a falta de regularidade e o escasso
repasse do SUS. "A solução passa pela autonomia administrativa e o
repasse direto para a gente, que não dependesse do repasse via
município", avalia. O diretor do HU de Cascavel, Alberto Pompeu, comenta
que o hospital atende muito mais pacientes do que a capacidade permite e
lida com falta de funcionários. Atualmente, são 711 servidores
efetivos, 110 estagiários, 30 residentes e 130 prestadores de serviços.
"Os casos de baixa complexidade devem ser atendidos em outras
instituições da rede pública. Às vezes isto sobrecarrega o hospital. O
hospital tem a característica de atendimento de média e alta
complexidade e precisa se ater a este campo para poder atender a região
toda", declara.
O diretor-superintendente do HU de Maringá, José
Carlos Amador, afirma que o hospital tem um déficit "absurdo" de
recursos humanos. "O hospital não está completo ainda, mas funciona como
se estivesse. Temos material sucateado. Ainda enfrentamos um aumento no
número de pacientes. Muitos hospitais da região deixaram de atender
SUS", conta.
No final de março deve ser inaugurado mais um
hospital universitário no Paraná, o Hospital Regional de Ponta Grossa.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, ele vai atender a demanda de
ensino do curso de Medicina na Universidade Estadual de Ponta Grossa e
contribuir na assistência à saúde. O hospital será de média e alta
complexidades. (JC)
http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/430903/?noticia=FALTA+DE+ESTRUTURA+COMPROMETE+HUS