Diariamente,
845,6 mil paranaenses saem de suas casas para estudar ou trabalhar em
cidades vizinhas. Isso quer dizer que 8% da população do estado faz
movimentos pendulares, como os especialistas chamam o deslocamento da
população para trabalho e estudo em municípios que não o de residência.
Em uma década esse número quase dobrou – passou de 478,6 mil para 845,6
mil –, enquanto a população do estado cresceu 9,2%, e houve uma
desconcentração da movimentação em Curitiba. Os dados estão em uma
pesquisa realizada pelo Ipardes com base em dados divulgados à imprensa
ontem pelo IBGE.
A capital ainda é a cidade que mais
recebe trabalhadores e estudantes – são quase 300 mil pessoas por dia.
Em dez anos, a cidade descentralizou um pouco dessas entradas: em 2000,
42,75% da população em deslocamento no estado vinha para a capital,
contra 35,42% em 2010. Além disso, Curitiba assumiu o posto de município
que mais envia pessoas para outras localidades, somando cerca de 85 mil
pessoas. Em 2000, era Colombo, na região metropolitana, a cidade com
maior número de saídas.
A análise dos dados dos últimos dois censos ainda mostra uma
tendência de consolidação de polos regionais, cidades de médio porte que
têm atraído um grande contingente populacional. Para o professor de
Economia da Unioeste e doutor em Demografia Ricardo Rippel, esse é um
movimento típico do Brasil, com a despolarização das capitais, um
fenômeno que ocorre em vários estados, especialmente em São Paulo. “É
uma tendência, as cidades médias oferecendo emprego e melhor qualidade
de vida”, avalia.
O sociólogo e pesquisador do Ipardes Paulo Roberto Delgado, coautor
do estudo, aponta São José dos Pinhais como um caso emblemático da
região de Curitiba. “Embora ainda tenha um número elevado de pessoas que
saem para trabalhar em outro município, São José é hoje um importante
receptor de mão de obra da região metropolitana, inclusive da capital”,
analisa. Ou seja: algumas cidades da região metropolitana estão deixando
de ser apenas cidades dormitório e se fortalecendo com a oferta de boas
vagas de emprego e a instalação de novas empresas.
Interior
No interior, Londrina e Maringá continuam sendo os principais polos
receptores, mas outras cidades estão se destacando. No caso de
deslocamentos para estudo, os pesquisadores notaram um aumento na
movimentação de entrada em Cascavel, no Oeste, e em Cornélio Procópio e
Jacarezinho, no Norte Pioneiro. Pela faixa etária, é possível afirmar
que grande parte são estudantes universitários ou de cursos técnicos.
“Durante toda a década, houve várias iniciativas de fortalecimento das
universidades estaduais, com campi em várias cidades”, analisa Delgado.
Morar na capital e trabalhar fora dela
O ir e vir entre a capital paranaense e as cidades da Região
Metropolitana de Curitiba (RMC) mudou na última década. Se antes as
cidades da RMC eram dormitórios, hoje atraem muitos profissionais que
optam por morar na capital, com sua infraestrutura completa, e trabalhar
nos municípios vizinhos.
Esse é o caso de Theo Marés, de 37 anos, que mora em Curitiba e
trabalha em Piraquara, onde é procurador do município, e São José dos
Pinhais, onde dá aulas de Direito em uma faculdade.
“Já pensei em mudar de cidade. Só não saio porque minhas filhas
estudam e as melhores escolas estão em Curitiba. Minha família também
está aqui”, conta. Diariamente, ele leva cerca de duas horas se
deslocando entre as cidades e é o trânsito o que mais o incomoda.
Esse trajeto entre a capital e uma cidade vizinha também é bem
conhecido pela família da pedagoga Célia Bronguel, de 56 anos. Natural
de Araucária, ela deixou a cidade para morar em Curitiba na época da
faculdade. “Araucária era uma cidade pequena e não oferecia trabalho na
minha área, então fui morar e trabalhar em Curitiba”, conta. Em 1991,
ela prestou um concurso para atuar em Araucária e foi aprovada.
Começaram então as viagens diárias entre as cidades, que só
terminaram quando a filha mais velha foi para a universidade e a família
voltou para Araucária, por volta do ano 2000. O alto custo e o trânsito
influenciaram na decisão da família.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1329477&tit=8-da-populacao-estuda-ou-trabalha-em-outro-municipio