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A crise econômica mundial

A crise financeira mundial continua dominando os grandes espaços da mídia no Brasil, com opiniões, muitas vezes, tendenciosas, que só observam e divulgam o lado dos empresários interessados somente no lucro fácil. Primeiro, é bom lembrar mais uma vez e isso a grande mídia não divulga, que essa crise é fruto de décadas de políticas neoliberais que levaram a internacionalização do capital financeiro, causaram o enfraquecimento do Estado. Ela começou a nascer com as políticas neoliberais defendidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. A chamada globalização, na verdade, internacionalizou o capital financeiro, tornando o mundo refém das variações e transações de capitais.
Essa crise não atinge da mesma forma todos os países e também os estados no Brasil. A turbulência nos Estados Unidos, que é muito grande, é diferente da crise na Europa. No Brasil e na vizinha Argentina, os reflexos da crise são menores. Já a crise que atinge São Paulo, não tem os mesmos efeitos no Paraná. Cada estado e cada país sente a crise de forma diferente. Não se pode fazer comparações entre realidades desiguais, é um contrassenso.
Estamos no terceiro mês de 2009 e, apesar do pessimismo de muitos, o País está enfrentando a crise de cabeça erguida. As medidas adotadas pelo governo Lula têm surtido bons resultados e, no Paraná, o governo Requião vem enfrentando a turbulência de maneira eficaz, com investimentos que possibilitam a geração de novos empregos. Aliás, em janeiro, com crise e tudo, foram criados 1,6 mil novos empregos com carteira assinada no Paraná. Fomos um dos poucos estados que começaram o ano com saldo positivo, taxa de 0,07% de crescimento. A Região Metropolitana de Curitiba foi a única do País que apresentou crescimento: 0,06%. O governo está mantendo todos os investimentos do Estado. Nenhum dos programas e ações do governo está sofrendo descontinuidade ou restrição de recursos.
Agora mesmo, tramita na Assembléia Legislativa do Paraná, uma Proposta de Emenda Constitucional enviada pelo governo Roberto Requião, que vincula a concessão de incentivos fiscais para empresas à manutenção e ampliação de empregos. O Paraná não está simplesmente observando a crise passar. Estamos tomando medidas que geram novos postos de trabalho e com isso aumentam o consumo e a renda do Estado. Do
ponto de vista de gestão e do desenvolvimento local, em termos de impostos, por exemplo, o estado diminuiu no ano passado a alíquota do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias_ de 18% para 12% em 95 mil produtos.
Também tramita no Legislativo estadual, a proposta do governo para reajuste do piso salarial regional em 14,9% , devendo ficar entre R$ 605,52 e R$ 629,65. Se aprovado o reajuste, o maior piso do Estado deve ser 35,2% superior ao salário mínimo nacional, que passou de R$ 415,00 para R$ 465,00 no dia 1º de fevereiro. O reajuste do piso do Paraná deve vigorar a partir do dia 1º de maio,beneficiando diretamente 170 mil trabalhadores. O reajuste aquece a economia, porque promove aumento no poder aquisitivo e distribuição de renda.
O Paraná, mais uma vez, demonstrando sua preocupação com os destinos do País, será palco de um seminário internacional para discutir a crise. No ano passado, quando se realizou em Curitiba, durante quatro dias de dezembro, o Fórum Crise, Rumos e Verdades, com a participação de 40 especialista de diversas partes do planeta, durante a minha exposição, disse que a crise iria aprofundar o processo de integração sul-americano. Hoje, não tenho dúvidas de que isso está acontecendo. No entando, acredito que temos de ampliar a integração política para combater as desigualdades sociais.
Continuo defendendo que o melhor remédio para combater a crise é investir, principalmente em infra-estrutura e construção de moradias populares. O governo do presidente Lula vem fazendo isso, com os investimentos do PAC- Programa de Aceleração do Crescimento. Também defendo a tese da redução dos juros, para incentivar os investimentos produtivos e o consumo interno.Recentemente, o governo federal reduziu a taxa de juros no país, de 13.75% para 12.75%. Embora baixa, afinal de contas foi a redução de um ponto percentual, isso tem um efeito fundamental para a economia do país e para as nossas vidas. A redução deixa claro que o Banco Central não está à margem da crise e indica uma tendência de queda de juros dentro dos próximos meses. Acredito que até o final do ano, a taxa chegue aos 10%.
Agora, de nada adianta o governo adotar medidas e alguns empresários tentarem se aproveitar da ocasião para obter lucro fácil. Muitas empresas ganham isenções de impostos e na primeira crise demitem para não mexer nos lucros. Ou, com auxílio da grande mídia, apregoam aos quatro cantos que só tem um jeito de se manter o emprego: mudando a legislação trabalhista. Eles insistem que a saída é reduzir a carga horária dos trabalhadores, pagar menos, cortar direitos.
O momento exige união entre a classe trabalhadora, governo e empresários responsáveis. Não podemos concordar que os direitos dos trabalhadores sejam alterados. O décimo terceiro, as férias, a licença maternidade, entre outros, foram conquistas depois de muita luta. O que não podemos, nesse momento, é concordar que alguns ganhem e que os trabalhadores, como sempre, percam .

Enio Verri é deputado estadual do PT, Secretário de Estado do Planejamento e professor do Departamento de Economia da UEM- Universidade Estadual de Maringá.