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Na cidade que encolhe, faltam casas e emprego

Doutor Camargo, município da Região Metropolitana de Maringá, teve mais mortes do que nascimentos em 2007, segundo o IBGE; falta de casa e de emprego também são problema

 

 
Ricardo Lopes

Moradores sentem que a cidade oferece poucas opções, inclusive para lazer

 

Desde o final de 2006, nascem menos camarguenses do que morrem. A informação é do Registro Civil 2007, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com 40 nascidos vivos em 2007, contra 47 óbitos, Doutor Camargo – que só tem 5.069 habitantes – encolhe. É o único dos 13 municípios da Região Metropolitana de Maringá (RMM), segundo o IBGE, onde o fenômeno ocorreu. Fato que pegou o prefeito Alcídio Delapria (PP) de surpresa. “Não deixa de ser uma informação chata, preciso checar esses dados com a tributação”, comentou.

Após confrontar os números do IBGE com o banco de dados do município, Delapria ligou novamente para O Diário e concordou com os dados, já com uma explicação para o fenômeno. “Tem muita gente que morre em Maringá e é enterrado aqui”, declarou, observando que não há a mínima possibilidade de Doutor Camargo se tornar uma cidade fantasma. “Não acredito nisso. Este ano, até o momento, temos 38 óbitos e posso garantir que nasceram bem mais crianças que isso”, disse, sem saber precisar o número de nascidos. “Pedi a informação no cartório, mas ainda não tive retorno”, justificou o prefeito.

Nas estatísticas do IBGE, consta que Doutor Camargo teve 40 nascidos vivos em 2007 por lugar de residência da mãe e igual número por local de registro. Isso significa que lá, ao contrário do que ocorreu em cidades como Sarandi e Paiçandu, no ano passado, as mães não deixaram a cidade para ter filhos. Fato que derruba o argumento, dado pela Secretaria da Saúde de Doutor Camargo, de que muitas famílias optaram pelo parto em Maringá. Na Secretaria de Saúde, ninguém quis dar entrevista.


Situação delicada

Delapria, no entanto, reconhece que Doutor Camargo passa por uma situação delicada. Faltam moradias e empregos na cidade. “Temos que gerar empregos e construir casas. Foram feitas mais de 200 residências (por particulares) nos últimos quatro anos, e mesmo assim faltam moradias”, disse o prefeito. Segundo ele, 350 camarguenses estão na fila da casa própria, porém, a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), diz ele, deve liberar apenas 66 casas do tipo popular, em 2009. “Hoje, mesmo quem precisa alugar uma casa não encontra nada disponível”, diz.

O Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM) aponta que, na década passada, Doutor Camargo foi a única cidade da RMM a registrar uma diminuição da população. E de lá para cá, explica a coordenadora do observatório, a doutora em Sociologia Ana Lúcia Rodrigues, a cidade não conseguiu se tornar atrativa, principalmente aos olhos dos jovens. “Ninguém mais se muda para Doutor Camargo, porque não há uma dinâmica econômica que atraia novos moradores. Se essa população hoje tem mais idosos e não está mais em idade fértil, então não haverá uma reposição populacional”, explica. Num cenário em que faltam oportunidades de trabalho, diz Ana Lúcia, a tendência dos jovens é optar por cidades maiores ou onde, ao menos, haja empregos.

De fato, é o que tem ocorrido na cidade. Descontentes com a falta de emprego e também de diversão, os jovens deixam Doutor Camargo em debandada. É o que pretende fazer o casal Diane Tieme e Lucas Hashiura, ambos com 24 anos. “Os mais velhos sempre dizem que os jovens têm de trabalhar, mas não tem emprego para todos em Camargo”, reclamou Diane. Ela e o companheiro já cogitaram se mudar para Maringá, porém, decidiram esperar a crise financeira mundial passar para voltar a trabalhar no Japão. Pintor, Hashiura trabalha na vizinha Ivatuba porque, segundo ele, “está faltando até casa para pintar em Doutor Camargo”.