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'Uma reforma de verdade só é possível em nível nacional'


Joílson Dias  (Economista e professor da Universidade Estadual de Maringá)


-  O governo do Estado pretende desonerar produtos consumidos principalmente pelas camadas menos favorecidas. Isso é possível?

Toda vez que desonera a população de impostos, em todos os modelos econômicos e estudos matemáticos que temos, isso tem um efeito maior do que outras políticas de longo prazo. Toda vez que se deixa o recurso na mão das pessoas, elas tomam decisões mais eficientes, o que beneficia a economia.

Com recurso disponível, a população acaba tendo o chamado 'efeito multiplicador', gasta mais e a tendência é gerar mais impostos. Toda reforma tributária que visa a fazer isso tem maior efeito.


- Mas o secretário da Fazenda não descarta um possível aumento de outros impostos para compensar a desoneração. Na prática, como fica?


Toda vez que o governo age dessa forma, erra. Você tem um imposto básico que atinge uma camada maior da população, por exemplo, sobre a energia. Desonerando alguns impostos, as pessoas tendem a adquirir bens que consomem energia, pagando o imposto sobre o consumo. Isso é chamado de 'efeito nulo', não tem reforma nenhuma nisso, apenas uma mudança.


- É possível desonerar produtos visando apenas a uma camada da população, da maneira como pretende o governo?

O que se tenta fazer é atingir bens cujo consumo favoreça aquelas famílias. Por exemplo: desonerando a cesta básica é possível atingir e privilegiar essas camadas com políticas específicas. O governo deve buscar desonerar alimentos, não tem sentido cobrar imposto sobre alimentos.
Taxar alimentos é proibir as pessoas de consumir.

Também não tem sentido cobrar impostos sobre remédios, é uma coisa que as pessoas consomem por obrigação, não é supérfluo. Energia não é luxo, ela ajuda as famílias de várias formas, assim como a água.


- Quais seriam as medidas pra que houvesse uma reforma na acepção da palavra?

Uma reforma reduz os impostos e torna o Estado mais eficiente, ou seja, ele funciona da mesma maneira com menor quantidade de recursos. Para que funcione, o governo tem que se tornar mais eficiente, custar menos para a sociedade. Tudo que desonera salário é extremamente benéfico, isso já foi feito com as microempresas e houve aumento de empregos no Paraná.

Existe conhecimento técnico para fazer essa reforma. Entretanto, como tudo está interligado, uma reforma de verdade só é possível em nível nacional. E o projeto no Congresso está parado e já foi todo descaracterizado.