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Mau hábito abre espaço a doenças que vêm do chão


Solo e areia escondem parasitas transmitidos por fezes de cães e gatos. Estudo da UEM revela que todas as praças de Maringá estão contaminadas com ovos que transmitem a toxocaríase

 

Sabidamente um mau hábito que revela falta de educação dos proprietários e descaso com o espaço público, o costume de levar cães para defecar em canteiros e jardins de uso comum esconde um perigo real à saúde humana: a toxocaríase.

Apesar de pouco diagnosticada, a doença é reconhecida como uma infecção comum e apresentam sintomas muito parecidos com os de outras doenças - especialmente a asma - que acometem o aparelho respiratório.

Zoonose transmitida por um parasita (ascarídeo) encontrado nos intestinos de cães e gatos (toxocara canis e toxocara gatis), a doença acomete o ser humano a partir da ingestão acidental de ovos, encontrados no solo e areia contaminados com fezes desses animais.

Um estudo iniciado por professores e alunos do Departamento de Análises Clínicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 2003, em Maringá e dez cidades da região noroeste, demonstrou que a maior parte das praças e gramados com área de lazer infantil apresentava ovos de toxocara.

Em Maringá, as quadras de areia das 13 praças públicas nas quais há balanços, gangorras e gira-gira, além dos gramados, estão contaminados, segundo o estudo da UEM. Da mesma forma, os gramados da Praça da Catedral, do Estádio Willie Davids e o do entorno do Parque do Ingá - lugares de grande aglomeração de crianças, as principais vítimas do parasita.

De acordo com a farmacêutica Ana Lúcia Falavigna, que coordenou o estudo desenvolvido pela UEM, crianças até seis anos estão mais propensas à contaminação com o toxocara. "Até essa idade, a fase oral é muito forte, a criança costuma levar tudo à boca", diz.

Além da análise parasitológica do solo, a pesquisa também buscou a presença do parasita em crianças. Em dois anos, foram colhidos exames de sangue de mais de mil crianças até 12 anos, moradoras em todas as cidades envolvidas no trabalho. Os resultados surpreenderam os pesquisadores.

Em Maringá, 28% reagiram positivamente. Na região, o índice quase duplicou: 51,6% das crianças havia entrado em contato com o toxocara alguma vez na vida. "Nas cidades pequenas, as crianças brincam mais na terra", conclui Ana Lúcia.

As análises, no entanto, não demonstram, com precisão, com que freqüência a contaminação ocorreu, nem mesmo se a infecção está ativa. O exame de sangue só comprova que houve contato com o parasita.

A farmacêutica Cristiane Maria Colli, que também participou da pesquisa, explica que o grau de exposição aos ambientes infectados vai determinar o "tamanho" da contaminação. "Cada ovo é uma larva. Se a criança sempre brinca no mesmo lugar ou se coloca a mão na caixinha de areia do gato, ela pode ser contaminada várias vezes", diz ela.

Resistentes, de cascas grossas, os ovos do parasita depositados pelas fezes dos animais resistem no meio ambiente por até um ano, mesmo período em que as larvas se mantêm vivas no organismo humano contaminado.