Imprimir

Sobre a avaliação 'O PT e as eleições municipais 2008

Aqui nesse mesmo jornal, um conhecido dirigente do PT municipal e também professor da UEM expôs uma avaliação sobre o desempenho de seu partido nas últimas eleições.

A intenção aqui não é exatamente concordar ou discordar da conclusão a que chega o autor dessa avaliação, com quem, aliás, costumo aprender muito sobre Maringá e sua história.

Mas considero pertinente tecer alguns comentários sobre a natureza das considerações que embasam sua avaliação, pois ela ilustra bem a rationale que veio ganhando espaço no PT. É desse ponto de vista que a avaliação merece atenção.

Assim foi dito que, embora o PT não tenha saído vitorioso nas eleições para a prefeitura da cidade, o resultado de sua atuação no pleito foi positivo.

As justificativas são: o partido conseguiu reeleger seus dois vereadores e ainda mais um pela coligação; entre aqueles com chances de vencer, seu candidato a prefeito era o menos conhecido e foi o que mais ganhou votos no decorrer da campanha, tendo chegado em segundo na corrida eleitoral; somando-se o porcentual alcançado pelo candidato do PT à prefeitura ao que conseguiu João Ivo Caleffi, que era do PT até pouco tempo, chega-se ao resultado de 28,5%, que equivale ao mesmo porcentual conquistado pelo partido no primeiro turno de 2004. Essas considerações sustentam a conclusão de que o PT manteve, assim, seu capital eleitoral.

Entretanto, como não se poderia deixar de reconhecer, a avaliação faz a seguinte ressalva: "houve um insucesso relativo" do PT, já que o resultado das eleições majoritárias significou a vitória de um "grupo bem estruturado", o "realinhamento dos grupos hegemônicos de Maringá".

Quero chamar a atenção para o fato de que as considerações levantadas para fundamentar a avaliação são de natureza técnica, matemática. Não há nenhuma frase nela que evoque a dimensão política do resultado eleitoral e que instigue os leitores do jornal a fazerem uma reflexão sobre o tipo de projeto político que escolheram para sua cidade.

Desse modo, as considerações são reveladoras da preocupação de fundo que norteou a avaliação do processo eleitoral. Ela se sintetiza na pergunta: quanto espaço no Estado o meu grupo conquistou?

Bom, pode-se perguntar: a conquista de espaço no Estado não é mesmo a finalidade dos partidos? E se é assim, é óbvio que os cálculos matemáticos devem entrar em jogo, norteando estratégias, fundamentando avaliações.

Mas, se ocupar o Estado é projeto de qualquer partido político, o que essa avaliação evidencia é que para expoentes da direção petista esse projeto está desvinculado de propostas políticas mais substantivas para a cidade.

E, nesse sentido, é significativo que a avaliação designe os adversários do PT simplesmente como: o outro grupo, o que está bem estruturado. Essa designação não instaura critérios políticos para o reconhecimento das forças que disputam a cidade, a não ser o critério do "amigo/inimigo".

A própria campanha eleitoral careceu de um debate político mais profundo sobre os projetos de cidade que as coligações partidárias representavam.

Tanto o candidato petista como o que venceu as eleições restringiram a política a uma questão de "competência técnica". Se o PT teve algum "insucesso relativo", ele está no fato de que o candidato do PP soube convencer que reunia mais do que os demais os atributos que a própria campanha petista para prefeito ajudou a tornar critério de escolha eleitoral: o tecnicismo.

Carla Almeida
Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM)