Processo administrativo tramita em sigilo desde outubro de 2016. Protesto foi durante a colação de grau.
Formandas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no norte do Paraná, protestaram contra a demora nas investigações sobre assédio sexual supostamente cometido por professores da instituição.
Um processo administrativo contra dois professores do Departamento de História (DHI) tramita em sigilo desde outubro de 2016, segundo a UEM. Em agosto de 2017, a universidade informou que a previsão de conclusão do trabalho da comissão era outubro do ano passado.
Os estudantes protestaram durante a colação de grau que foi realizada na última sexta-feira (9), na arena coberta do Parque de Exposições Francisco Feio Ribeiro, em Maringá. Mais de 700 acadêmicos, de 24 cursos de graduação, receberam o diploma na ocasião.
O G1 conversou nesta segunda-feira (12) com uma das manifestantes, que preferiu não ser identificada. Segundo ela, que diz ter sido vítima de assédio de um dos professores, o ato foi organizado coletivamente.
"Não fizemos muita divulgação porque prevíamos boicote. Cada uma levou um cartaz com frase sobre o que aconteceu com a gente e ergueu durante o discurso do reitor. Na plateia também tinham cartazes", explicou.
Ela afirmou que a reação do público na hora foi de não entender o que estava acontecendo. "Nem todo mundo tem ideia do que aconteceu. Muitos até acreditam que isso era desnecessário. Mas isso influenciou na nossa trajetória. Foi um trauma", disse.
A manifestante informou ainda que duas pessoas foram tirar os cartazes delas sem se identificarem. "Não sabemos quem mandou e nem o motivo para tirar", afirmou.
Segundo ela, as manifestantes esperam por justiça. "Se aconteceu com a gente e não forem punidos, vai acontecer com outras pessoas. Hoje eles estão afastados, porém quando retornarem pode acontecer de novo", disse.
Entre as faixas, havia algumas pedindo o resultado do processo. “Dar em cima de alunas não é normal, é assédio”, dizia um dos cartazes.
Um dos formandos carregava um cartaz pedindo a exoneração de professores abusadores: “Lugar de professor abusador é na rua”.
O que diz a UEM
A reitoria da UEM informou que não vai se pronunciar sobre o processo, mas confirmou o recebimento do relatório final da comissão que investigou o caso.
A direção da universidade alegou que está seguindo as orientações da Procuradoria Jurídica para dar sequência à tramitação do processo administrativo.
Relembre o caso
Embora a investigação tenha começado em 2016, houve desistência por parte de professores nomeados para integrar a comissão. Somente em fevereiro de 2017 o grupo passou a ser composto pelos membros atuais.
A atuação da comissão de três docentes – formada por um homem e duas mulheres – é independente da reitoria e dos conselhos universitários.
Os investigados prestaram depoimento na primeira semana de agosto de 2017 e tinham até o fim daquele mês para apresentar a última defesa, por escrito, por meio de advogados.
Pelo menos dois relatos de abusos cometidos por professores da UEM foram publicados em uma página no Facebook em que pessoas de todo o Brasil relatam assédio dentro de universidades.
O relato de uma universitária, de fevereiro de 2016, conta que um dos investigados, denunciado várias vezes na página, a assediou quando era caloura.
"Ele sempre me assediou e eu sempre tive nojo, mas como era caloura fiquei na minha. Hoje, eu cortei qualquer relação com ele, mas falava coisas horríveis para mim, coisas que imaginava fazer comigo', diz um trecho.
A denúncia anônima também afirma que a situação ocorreu com mais estudantes. "Muitas estão em silêncio. Porém, basta. É hora de colocarmos esse cara na rua", relata o texto.
Outras manifestações
As investigações já geraram outros protestos de estudantes. Uma delas foi a mostra fotográfica "Professor abusador: assédio e violência de gênero nas universidades", organizada por duas acadêmicas da UEM.
O trabalho foi apresentado no evento 13º Mundo de Mulheres e Fazendo Gênero 11, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e mostra estudantes segurando quadros com frases de assédio.
Outro protesto, na própria universidade, de autoria anônima, espalhou cartazes em blocos da UEM com fotos de dois professores da instituição sendo "procurados" por terem cometido assédio.