Na contramão da indústria da moda, três universitários paranaenses lançaram mão de um conceito consciente e sustentável, o slow fashion, para tirar do papel criações que unem três diferentes estilos. Dos bancos e corredores do campus de Cianorte, no noroeste do Paraná, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), as ideias ganharam os palcos com novos artistas da música pop brasileira.
Há seis meses, Dario Kenedy Mittmann Barbosa, de 21 anos, Cinthia Custódia Miranda, 21, e Luís Fernando Peixoto, 25, passaram a dividir a rotina de faculdade com a responsabilidade de criar os figurinos que vestem artistas como Pabllo Vittar, Ludmilla, Rico Dalasan, Iza, Manu Gavassi e Banda Uó, mas não apenas eles.
"A gente desenvolveu alguns trabalhos juntos para concursos, mas neste ano tivemos a ideia de começar a fazer algo mais comercial, e que não fosse tão conceitual quanto os desfiles", conta Dario. Esse foi o embrião para o surgimento da Made in Wonderland, que não trabalha com estoque, e desenvolve peças por encomenda.
Do desenho à confecção da roupa, os processos passam pelas mãos dos três amigos. A preocupação com os materiais utilizados e com o impacto ambiental fazem parte de todas as etapas de produção, segundo eles.
Já a inspiração, que vem também dos próprios artistas que eles vestem, é uma junção do que são, unindo o street wear (estilo urbano moderno), o queer (que rompe com o conceito da heteronormatividade) e o afro. "Isso é nós três. E esses artistas nos inspiram e nos representam", afirma Cinthia.
Mateus Carrilho, integrante da Banda Uó, conta que ficou impressionado quando viu as roupas da marca dos jovens. "Eu acho que a maneira criativa como desenvolvem as peças é um grande diferencial pra marca. Achei realmente visionário e acho que tem um mega potencial. Os meninos têm muito talento e vão ter um futuro brilhante", afirma.
Logo no início do estúdio de criação, eles resolveram arriscar uma cartada que, para muitos, poderia ser considerada ousada. Entraram em contato com o Rico Dalasan, o primeiro rapper assumidamente gay do país, e ofereceram um figurino.
"Ele super curtiu e usou num show. Daí no outro dia, que lançamos a primeira coleção, a stylist da Iza veio pedir para a gente fazer [uma peça] para ela. Depois veio a stylist da Ludmilla e esses artistas começaram a se tornar parceiros fixos nossos", recorda Dario.
Em julho deste ano, durante as comemorações do aniversário de Cianorte, a cantora Ludmilla se apresentou na cidade com um figurino produzido pelos estudantes. No dia 25 deste mês, foi a vez de Manu Gavassi estrear o clipe "Muito Muito", no qual ela veste roupa feita por eles.
Para o próximo mês, os três estão focados em produções para a Pabllo Vittar, Ludmilla e a modelo Ellen Milgrau, e também nos pedidos que recebem pela internet.
"Queremos ampliar a produção, mas vamos continuar sem estoque e trabalhando por encomenda", explica Luís Fernando. "Também temos o plano de chamar outros designers para trabalharem conosco", completa Dario.
Luís Fernando ainda revela que a próxima coleção da marca será sobre o afropunk, tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Cinthia. Os outros dois estão cursando o terceiro ano da graduação.
Antes mesmo de criarem a marca, no ano passado, um desfile apresentado por eles foi comentado por um dos maiores portais de tendência de moda do mundo, o WGSN (Worth Global Style Network). Já no fim de julho deste ano, a Made in Wonderland foi uma das dez marcas brasileiras indicadas ao Prêmio Novos Talentos GQ + Reserva.
A rápida ascensão, embora fosse um sonho, pegou os universitários de surpresa. "Foi tudo muito rápido. Nem tivemos muito tempo para refletir sobre isso. É um pouco assustador, ainda somos estudantes", diz Dario.