Neste sábado, fui à reitoria da UEM ocupada pelos acadêmicos desde o dia 25 de agosto de 2011.[1]
Na parte externa do prédio, vários jovens sentados participavam de um
curso; alguns brincavam de equilibristas andando numa corda suspensa
entre duas árvores; outros conversavam em pequenos grupos; alguns
dormiam em colchões improvisados e havia várias barracas de acampar
Fui convidado a entrar. O acesso foi pela porta lateral da sala
utilizada geralmente para as reuniões do COU (Conselho Universitário),
órgão máximo da universidade, e outros eventos oficiais. O local estava
ocupado por jovens entretidos com seus notebooks e netbooks (observei,
inclusive, pessoas a trabalhar em projetos; pareceram-me futuras
arquitetas); outros assistiam a um filme. Meus cicerones mostraram as
demais dependências: colchões espalhados, pessoas a dormir, a comissão
da alimentação a trabalhar na cozinha, os membros da comissão de
comunicação a preparar textos e divulgar o movimento pela rede, a
comissão de política a se reunir.
Conheci o prédio em outras ocasiões e, claro, o que vi contrastava
com o funcionamento tipicamente burocrático de um dia de trabalho
normal. Recordei, então, que a mais alta autoridade da universidade, em
entrevista à rádio local, caracterizou a ocupação da reitoria como um
“ato de vandalismo”.[2]
É lamentável que a autoridade lance mão de um argumento batido e
recorrente. Este tipo de discurso fortalece estereótipos e corroboram
com o preconceito contra os estudantes. A mídia local reforça a
linguagem pejorativa – veja, por exemplo, a imagem de capa do jornal
(abaixo); não é uma escolha inocente, como também não é ingênua a
linguagem utilizada. Em política, as palavras e as imagens expressam
posições de poder e fazem parte do conflito.
Vandalismo é uma expressão derivada de Vândalo,
originalmente o povo de uma tribo germânica que desafiou o Império
Romano e contribuiu para a sua derrocada. Aliás, os romanos daquela
época se consideravam civilizados e denominavam bárbaros os povos que
ousaram desafiar o Império. Antes dos romanos, os gregos antigos já
usavam o termo para os povos que não falavam a língua grega. De
qualquer forma, e para além das disputas políticas semânticas, o que vi
no prédio da reitoria da UEM não confirma a acusação pejorativa de
vandalismo. Os estudantes organizam-se em comissões, praticam a
democracia direta – a assembléia estudantil é o órgão deliberativo – e
demonstram cuidado e preocupação com a preservação do que bem público.
Tive a oportunidade de acompanhar a assembléia realizada neste
sábado. Nesta, foi discutido e aprovado os encaminhamentos: a ida a
Curitiba para negociar, a escolha dos representantes, etc. A discussão,
a despeito dos esforços dos que coordenavam, estendia-se em detalhes e
rediscussões do que já parecia decidido. Não obstante, erros são
próprios dos que agem, dos que ousam desafiar as estruturas de poder e
a si mesmos. Uma reflexão crítica no momento oportuno poderá contribuir
para a análise do movimento, seus erros e acertos. Todos os movimentos
cometem equívocos. No entanto, para além dos aspectos criticáveis, o
importante é a atitude dos acadêmicos.
Ao contrário dos muitos que se acomodam em seus mundinhos, dos que
se adaptam por mero interesse egoístico, estes jovens atuam em defesa
da universidade pública, por melhorias para a comunidade acadêmica. Num
tempo em que o individualismo campeia nas esferas do campus é
salutar ver jovens que ousam lutar por demandas coletivas. Ouvi e
observei atentamente. Tenho orgulho deles, especialmente dos ex-alunos.
Foi um tarde/noite na qual o educador foi educado; foi uma aula prática
de Ciência Política!