Os 25 municípios da região de Campo Mourão, na região Centro-oeste do Paraná, concentram um dos índices mais altos do estado do Produto Interno Bruto (PIB) per capita: entre R$ 10 mil e 17 mil. Apesar da grande geração de riqueza, a renda é mal distribuída entre a população, o que resulta em índices de pobreza igualmente elevados. A conclusão faz parte do diagnóstico sobre a Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão (Comcam), realizado pelo Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM), divulgado no final da semana passada.
De acordo com a responsável pelo estudo, a professora do departamento de Economia da UEM Amália Maria Godoy, a região possui cidades com índices de pobreza próximos a 50%. Dois exemplos são Roncador (46%) e Luiziana (41%). “Observamos que há famílias que vivem com R$ 2 diários por pessoa, o que caracteriza índice de extrema pobreza.”
Para explicar tamanha disparidade, a professora lembra que a região tem como principal fonte de renda a agroindústria, caracterizada pela alta concentração de renda e pelos salários baixos ao trabalhador rural. “Constatamos que quem está no campo está trabalhando, mas recebe salários muito baixos.”
Amália lembra ainda que é cada vez mais comum a exigência da capacitação tecnológica para esses profissionais. “Não é uma questão exclusivamente de educação. Às vezes o emprego exige que o trabalhador saiba operar, por exemplo, um trator moderno, tecnológico. Mas essa população ainda não está apta para realizar esse trabalho.”
Por conta da baixa oferta de emprego e de exigências cada vez maiores, a professora explica que adultos entre 19 anos e 39 anos são os principais responsáveis pela alta taxa de emigração na região, o que representou uma queda de 4,3% no número de habitantes da região, segundo o Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o diagnóstico, os jovens que saem da região buscam cidades maiores, com mais oportunidades de trabalho e salários melhores.
Além do trabalho no campo, o trabalho formal gerado pelo setor público é opção para quem fica na região. “Quanto menor o município, maior a importância do setor público na geração de empregos”, explica a pesquisadora. “Mas os salários também são menores dos que os registrados em grandes centros.”
Desafios para região
Para Amália Maria Godoy, o principal desafio para os prefeitos da próxima gestão na região é criar novos postos de trabalho e capacitar a população para assumir novas demandas. A professora defende que a criação regional de cursos que ensinem como operar uma máquina agrícola moderna, por exemplo, pode profissionalizar e fazer com que a população permaneça na região.
Além de soluções essa, a curto e médio prazo, a pesquisadora afirma que é fundamental pensar em projetos que integrem a região para o desenvolvimento a longo prazo. “Para isso é preciso pensar, também, na melhor distribuição de renda nesses municípios.”
Na última sexta-feira (23), profissionais ligados à UEM e ao Observatório das Metrópoles se reuniram em Campo Mourão com cerca de 20 prefeitos, além de lideranças locais, para a entrega formal do diagnóstico. “A análise dos problemas já fizemos. Agora cabe a eles pensar em como corrigir essas falhas.”
De acordo com nota divulgada pela Assessoria de Comunicação da UEM, o presidente da Comcam, Fábio D’Alécio, afirmou que a comunidade deve se reunir para discutir o que foi apresentado pelos pesquisadores. “É necessário descobrir soluções para conter a evasão, aproveitando o potencial de cada município. Assim poderemos reverter o quadro atual e trazer de volta os cidadãos da região com o desenvolvimento e a identidade regional.”