Londrina – O difícil acesso dos cegos ao ensino superior,
abordado ontem pela FOLHA em reportagem, é comprovado pelo número ínfimo
de acadêmicos nesta condição matriculados em quatro das sete
universidades públicas do Estado. São apenas quatro estudantes cegos e
16 com baixa visão. A Universidade Estadual de Maringá (UEM) tem três
alunos cegos e quatro com baixa visão. Já na Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG), estudam um cego e uma aluna com visão parcial.
A Universidade Estadual de Londrina (UEL) é a que possui o maior
número de deficientes visuais, nove, porém nenhum deles é cego. Os
outros dois acadêmicos com baixa visão pertencem à Universidade Estadual
do Norte do Paraná (Uenp). A Universidade Estadual do Centro-Oeste
(Unicentro), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e
Universidade Estadual do Paraná (Unespar) não responderam os
questionamentos da reportagem até o fechamento da edição.
Cada instituição tem um departamento de apoio para estudantes
com deficiência em geral, na qual os cegos são incluídos. A UEM dispõe,
desde 1997, de um regulamento dos procedimentos para o ingresso de
pessoas portadoras de deficiência. Lá, o serviço é conduzido pelo
Programa Interdisciplinar de Pesquisa e Apoio a Excepcionalidade
(Propae). Segundo a coordenadora, Sônia Mari Shima Barroco, o grupo é
formado por um grupo de professores de diferentes áreas para dar suporte
aos portadores de necessidades especiais.
Enquanto os estudantes de baixa visão recebem material de
impressão ampliada, os cegos são atendidos com material em braille ou
apoio em áudio. Sônia explica que os cegos são atendidos por alunos
monitores das próprias turmas. "É um mediador que auxilia no processo de
tornar as aulas mais ágeis para todos", afirma. Equipamentos como
impressora e máquina de escrever em braille, ou softwares que convertem
texto em voz, auxiliam o processo.
PERSPECTIVAS
Sobre os dados da Universidade de Brasília (UnB), que apontam
que apenas 2% dos cegos concluem graduação ou pós, Sônia avalia como uma
triste realidade com perspectivas animadoras. "Durante muito tempo nada
foi feito. Agora, é possível perceber várias linhas de pesquisas nas
universidades voltadas para criar recursos para cegos e pessoas de baixa
visão", analisa. "Este é um campo aberto. Por isso conclamamos
pesquisadores de diversas áreas para que se atentem à importância de
desenvolver ferramentas para a acessibilidade", completa.
TECNOLOGIA
Na UEPG, o único acadêmico cego dispõe de
um aparelho sonoro para acompanhamento das aulas do curso de Direito. No
ano passado, uma estudante com baixa visão do curso de Serviço Social
ganhou um tablet para auxiliar nas aulas. Segundo a Comissão Permanente
de Apoio à Pessoa com Necessidade Educativa Especial (CAD), o uso da
tecnologia, em conjunto com os meios tradicionais, garante os direitos
de acessibilidade aos alunos com necessidades especiais.
Na UEL, o primeiro apoio aos candidatos é realizado pela
Coordenadoria de Processos Seletivos (Cops), com ampliação do tempo para
realização das provas; salas especiais e forma adequada de obtenção de
respostas pelo vestibulando, de acordo com o tipo de deficiência. A
partir do momento que o aluno é aprovado e faz a matrícula, ele é
acompanhado pelo Núcleo de Acessibilidade (NAC). "Apesar das
dificuldades que enfrentamos, a universidade está preparada para
recebê-los. O problema é o caminho até o ensino superior. Sem apoio,
muitos param os estudos muito cedo", lamenta a coordenadora Ingrid
Ausec.