Sair de uma cidade pequena do interior do Paraná e ser chefe de setor numa das principais empresas de moda do mundo parece ser o sonho de princesa típico de um uma comédia romântica hollywoodiana. E foi quase o que aconteceu com a chefe de Projetos Digitais da Chanel, em Paris, Mariana Medeiros Seixas, 29 anos. Ela saiu de Cianorte (a aproximadamente 70km de Maringá) em 2011 depois de se formar em Moda, no campus regional da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e foi trilhar carreira prossional na Europa por conta própria. "O brasileiro que consegue trabalhar em boas empresas fora do país tem algumas coisas em comum: muita perseverança, inteligência social, humildade, bom humor e sabe trabalhar em equipe", disse em entrevista ao O Diário, ao comentar sobre oportunidades, alunos e novos profissionais que se interessam por atualizações, baseada em seus contatos com amigas brasileiras na Europa. "O currículo conta, claro. Mas, o lado humano é também muito importante".
Hoje Mariana Medeiros é chefe de Projetos Digitais da Chanel, em Paris, coordenando a organização de conteúdos, atualizações e evoluções do site e aplicativo de uma das principais marcas de moda mundial.
Ela esteve em Cianorte nesta semana visitando familiares e foi convidada pelo professor Ronaldo Vasques para palestrar para alunos do segundo e terceiro ano de Moda da UEM/Cianorte.
Falou sobre o curso de Moda, sua trajetória profissional, como entrou na Chanel, seu trabalho na empresa, seu doutorado em Paris, entre outros assuntos. "Muitos dos novos profissionais que observo, aqui [no Brasil] ou na França tem uma certa pretensão ou exigem uma evolução muito rápida na empresa. É preciso paciência e investimento pessoal", considera sobre a formação de mão de obra.
Num outro olhar sobre o mercado que atua ela aponta a relação das tantas novidades instantâneas entre Moda, Tecnologia e Comunicação.
"Acho que não falta conhecimento das ferramentas. Mas, talvez seria interessante desenvolver uma reexão de como usá-las de maneiras diferentes", diz sobre o uso dos novos recursos. De quem mesmo com currículo respeitável e tantas ferramentas disponíveis, faz posts minimalistas em sua página no Instagram, enquanto o app é usado de maneira over e exibicionista no Brasil.
Local
Os cursos de Moda em Cianorte têm um paradoxo: ao mesmo tempo em que formam bons profissionais, o mercado local não valoriza e o graduado sai para outros mercados. É comum nas maiores empresas a contratação de estagiários e quando eles se formam não são efetivados por questões salariais. E assim segue um ciclo de contrata e dispensa estagiários enquanto estão estudando.
Mas um diferencial em relação a outros polos educacionais é que os alunos já conseguem empregos em Cianorte logo no primeiro ano de curso, enquanto em outras cidades com o curso mal conseguem trabalhar em seus segmentos mesmo após formados. "É muito gratificante ver uma aluna trabalhar em uma maison de grande renome como a Chanel", comenta o professor doutor, Ronaldo Vasques, sobre Mariana Medeiros.
Ela completa sobre a falta de política de recursos humanos nas companhias de moda. "As empresas não valorizam devidamente o trabalho dos estudantes. Os salários são muito baixos e há pouco investimento no profissional a longo prazo", considera Medeiros. "Como toda faculdade pública, a UEM se desdobrava para formar profissionais com o que podia graças à equipe de professores que investia tempo e carinho", lembra sobre as carências e improvisações que até hoje seguem no curso de Moda cianortense.
Perfil
Mariana Medeiros Seixas nasceu a 31 de março de 1989 em Cianorte. Se formou em Design em 2010 e depois de receber o diploma embarcou para a França por conta própria após dois anos de planejamento e sem ter contatos profissionais.
Ela fez pós-graduação, mestrado e hoje está no terceiro ano de doutorado em Comunicação e Sociologia.
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