Lua Lamberti defendeu sua dissertação e se tornou a primeira travesti a concluir um curso de mestrado na Universidade Estadual de Maringá (UEM) - por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação. Sua tese, apresentada e defendida na última sexta-feira, 22, intitulada “Pe-Drag-Ogia”, discute a inacessibilidade de pessoas trans nos territórios formais da educação.
Lamberti tem 24 anos. Terminou a graduação em Artes Cênicas - Licenciatura em Teatro em 2016, também pela UEM. “Eu me dei conta que tudo o que nós estudamos foi escrito por pessoas que não são trans, não são mulheres, não são negras. São, em sua maioria, homens, brancos e héteros. No meu trabalho, propus uma pedagogia montada de drags, que visasse dar visibilidade a esses corpos. Atrelei isso de uma forma artística e poética”, explica a mestre. No trabalho, Lua Lamberti, enquanto pesquisadora, conversa com sua própria drag queen, chamada Galathea.
Com a conquista, a jovem pretende inspirar outras travestis. “A gente não vê pessoas trans na rua, e quando vemos, estão na marginalização. Na minha defesa, tinha cerca de doze pessoas trans. Quando vi essas pessoas ali, reunidas, me fez muito bem. Espero inspirá-las e quero que elas saibam que elas também me inspiram. Desde muito cedo, quando me assumi travesti, aprendi que se a gente não puxar umas as outras, a gente é levada pela correnteza”, declara.
Lua Lamberti ressalta que teve privilégios e foi apoiada por familiares e amigos para chegar onde chegou, mas que nem sempre é assim. “Não cheguei aqui porque fui melhor que ninguém, o meu acesso a essa graduação foi por uma gama de privilégios. Minha família e meus amigos sempre me apoiaram. Eu sou branca e magra, sou um corpo que as pessoas não se incomodam tanto em ver. Se fosse negra, já incomodaria bem mais”, enfatiza.
“Há diversos estudos e pesquisas sobre trans - todos escritos por homens, brancos e héteros -, mas está mais do que na hora da pessoa trans deixar de ser objeto e virar sujeito. A minha presença na dissertação do mestrado foi um comprimido amargo para muita gente engolir, mas agora essa goela está aberta, para passar muitos outros”, acrescenta a jovem.
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