A vida de Jairo José Botelho Cavalcanti é em meio às artes. Tanto na música quanto na luta o amor por ensinar é evidente.


Jairo José Botelho Cavalcanti passou a infância no Rio de Janeiro, sua cidade natal, e foi lá que conheceu a primeira paixão: a música, mais especificamente o violão. O pai era policial federal e não tinha conhecimento nenhum em teoria musical, mesmo assim tocava  violão de forma habilidosa, o que encantava o pequeno Jairo.

Os anos passavam e a vontade de aprender a tocar o instrumento crescia, mas o pai não o apoiava naquela época, pois achava o menino muito novo para tocar. Determinado a ser violonista, aos 10 anos de idade,decidiu ir atrás de um professor por conta própria e foi com amigos e conhecidos que aprendeu as primeiras notas.

Muito talentoso, ele aprendia técnicas apenas olhando os outros tocarem e depois de um tempo já tocava até melhor que os amigos mais experientes. Jairo logo percebeu que queria estudar e seguir uma carreira na música. No começo não foi fácil convencer a família, mas logo reconheceram a habilidade do garoto.

“Estudei música a vida toda”

Jairo ganhou o primeiro violão de presente do pai. Era um instrumento bem simples, sem luxo, mas que o acompanhou por anos. Inclusive foi com esse violão que Jairo prestou o vestibular para a faculdade de música na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foi aprovado no primeiro concurso que prestou. “Quem começou a me dar aula foi Turíbio Santos, um dos maiores expoentes do violão brasileiro”, conta Jairo sobre uma referência pessoal.

Depois da graduação, o carioca percebeu que queria seguir estudando e compartilhando conhecimento com outros. Foi por esse motivo que Jairo veio para Maringá, fez concurso para dar aula na UEM e passou. Chegou na Universidade em 1992 como professor auxiliar e começou a desenvolver um projeto da Diretoria da Cultura, no qual oferecia curso técnico em música na área de violão.

Em 1997 foi criada a Escola de Música da UEM e então o curso de música, que antes era oferecido pela Diretoria de Cultura, foi realocado. Jairo destaca que foi a Escola que deu o pontapé inicial para a criação da graduação de música na Universidade. Ele foi diretor da Escola de Música por sete anos e junto com um grupo de professores também participou no processo de implantação do curso de graduação, que começou a funcionar em 2002.

Um pouco antes desse processo de implantação do curso, ele saiu para fazer mestrado em musicologia na USP (Universidade de São Paulo), com Régis Duprat como orientador. Quando voltou para Maringá assumiu a cadeira de violão, sendo o primeiro professor da categoria na graduação. Jairo deu aula por dois anos e saiu para dar continuidade em outros projetos, como o curso técnico em música.

Alguns anos depois o violonista decidiu que faria doutorado, com o mesmo orientador do mestrado, em 2007. E para a surpresa, naquele mesmo ano ele conheceu o Aikido. Foi seu filho que lhe apresentou a arte marcial.
Pela insistência do filho e por já ter feito outra arte marcial antes, Jairo resolveu dar uma chance ao Aikido e começou a frequentar as aulas.

“Foi quase amor à primeira vista”

“Fui na primeira aula e voltei pra casa todo dolorido, a semana toda foi assim. Até questionei porque eu estava todo dolorido se eu não tinha feito praticamente nada na aula” diz. Mas isso tem um explicação, esta arte marcial mexe com os músculo de uma maneira que outras artes não o fazem.

Não precisou de muito tempo para Jairo se apaixonar pelo Aikido e a filosofia que a compõe. A prática vem de técnicas do Taijutsu, uma arte milenar japonesa, que propõe o princípio da não agressão e do movimento de ação para uma reação, ou seja, você parte da ação do outro para funcionar.

Jairo explica que o objetivo é de movimentação e de harmonia com quem o agride, não é finalizar o adversário, mas sim promover uma ação para que ele desista. O Aikido é uma arte aberta, que leva em consideração a percepção individual para cada pessoa, existindo um Aikido diferente para cada indivíduo. “O espírito do Aikido não tem idade, você apenas tem que estar espiritualmente envolvido”, relata Jairo ao falar sobre a pluralidade que a arte permite.

Para o carioca, o Aikido é muito mais do que um hobby e promoveu mudanças sensíveis. Ele garante que mexeu com questões comportamentais e no relacionamento interpessoal, imprimindo um novo olhar para o outro, respeitando mais as diferenças e pluralidades. "A arte marcial vem para quebrar com um sistema individualista, para ensinar a lidar com o outro em um coletivo", afirma.

Lá se vão quase 13 anos desde a primeira aula. Prova de que o Aikido o conquistou, é que ele se tornou instrutor da arte marcial. Há quase dois anos ele ministra aulas na ADUEM (Associação de Docentes da Universidade Estadual de Maringá). Já deu para perceber que ser professor é uma grande paixão do carioca?

Por fim, ao ser questionado sobre o futuro, o professor sorrindo fala: “ Talvez quando eu me aposentar os papéis se invertam e o Aikido tome maior parte do meu tempo e o violão se torne meu lado B”.

 

Texto e fotos: Natalia Luvizeto