Ministrado pela psicóloga Lúcia Cecília da Silva, professora da UEM, o curso ocorreu no Hospital Universitário

Por Fernanda Fukushima, com foto da própria Lúcia Cecília da Silva

O comportamento de uma pessoa suicida segue um padrão ou cadência que perpassa algumas etapas, como explica a professora Lúcia Cecília da Silva, do Departamento de Psicologia da UEM.

Com objetivo de dar apoio à celebração do Setembro Amarelo, o hospital universitário promoveu, no final de agosto, um curso sobre a temática, ministrado por Lúcia.

Como é que a gente pode observar que uma pessoa está com intenso sofrimento e pensando em por fim à vida?

Ela começa a falar que a vida não tem sentido, que ela não aguenta mais, que ela é um peso para família e para as pessoas, que a família e as pessoas ficariam melhores sem ela... São falas que a gente considera falas de alarme. Mas aí, quando ela começa a obter os métodos para consumar o ato, ela já começa, por exemplo, designar seus pertences a algumas pessoas. Dar uma coisa para um, uma coisa para outro. Ela começa a falar assim: “se acontecer alguma coisa comigo, minha conta é tal... Cuide do meu filho assim, termine esse projeto dessa forma”. Então, ela começa a fazer um testamento em vida. Fala que o sofrimento dela vai acabar e tudo isso um dia vai chegar ao fim. Temos que ficar atentos a todas essas manifestações. Precisamos observar quando a pessoa está mais isolada, triste, mais reclusa.

["Então, ela começa a fazer um testamento em vida. Fala que o sofrimento dela vai acabar e tudo isso um dia vai chegar ao fim. Temos que ficar atentos a todas essas manifestações. Precisamos observar quando a pessoa está mais isolada, triste, mais reclusa."]

Como funciona quando a pessoa não demonstra nada?

Isso de não mostrar sinais, não dar aviso, é até um mito que a gente ouve quando se discute o suicídio. Porque sempre têm alguns sinais, é que a gente não tem a acuidade, a atenção em observar, devido ao estigma, ao preconceito que se tem em relação ao sofrimento psíquico. Às vezes, as pessoas não acreditam nestes sinais, até como espécie de defesa de achar que não é tão grave.

Quais são as causas que levam a pessoa a pensar em cometer suicídio? São causas biológicas, sociais ou todo um contexto que leva a isso?

Todos esses são fatores que intervém no fenômeno do suicídio. Tanto é que os estudiosos dizem que é um fenômeno multidimensional, multicausal. Então, não dá pra gente dizer que o suicídio aconteceu por esta razão ou com esta justificativa. Ele tem toda uma configuração que entra nos fatores individuais, mas também familiares, da comunidade, econômicos, sociais. Hoje em dia, por exemplo, a questão social, as questões relacionadas à precariedade dos trabalhos, ao desemprego, à questão dos direitos sociais das pessoas têm contribuído muito para isso no mundo todo. 

A gente vê muito na mídia esse alerta sobre o bullying. Está ficando mais grave a situação e as pessoas geralmente associam isso com a depressão e o suicídio. Existe realmente essa relação?

Não dá pra fazer uma associação direta sobre o bullying com depressão e o suicídio. Mas, assim, o bullying é uma violência. As crianças ficam muito fragilizadas, os adolescentes também. Eles se sentem “despertencentes” a um grupo. Tudo isso causa muito sofrimento mental, sofrimento emocional e, se tem outros fatores que atuam junto, pode favorecer à tentativa do suicídio como uma solução para o problema. Como outros fenômenos, esse também é importante entre as causas do suicídio, principalmente com crianças e adolescentes. Há, ainda, a violência doméstica, o abuso sexual, tipos de violência que agridem o indivíduo. Quando a pessoa encontra algum apoio, consegue superar de alguma forma. A escola, a família que dá valor, aliviam o sofrimento, ajudam a encontrar um encaminhamento para a questão.

["Há, ainda, a violência doméstica, o abuso sexual, tipos de violência que agridem o indivíduo. Quando a pessoa encontra algum apoio, consegue superar de alguma forma. A escola, a família que dá valor, aliviam o sofrimento, ajudam a encontrar um encaminhamento para a questão."]