Pioneirismo e dedicação

Por Gabriela Pontes, com fotos de Leonardo Ianella

Há 46 anos, Nehemias Curvelo Pereira tem se dedicado integralmente à nossa Universidade e há quase oito anos ele é o docente em atividade com mais tempo de UEM. Mas não é só uma questão cronológica. A bem da verdade, o professor é um dos personagens principais na história da Engenharia Química do País. Ao lado de alguns colegas de docência e com a influência da UEM, Nehemias deixou seu nome escrito na evolução da Engenharia Química no Brasil, desenvolvendo um curso que foi modelo para a a implantação de outras graduações em todo o território nacional.

Formou-se em Química Industrial, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 1970. No início do ano seguinte já cursava o mestrado em Engenharia Química, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1972, acompanhado por cinco colegas do mestrado, ele veio para Maringá para, juntos, criarem o curso de Engenharia Química da UEM.

Nehemias chegou pouco tempo depois da criação da Universidade e foi lotado no Departamento de Física. Na época, havia apenas setenta professores na instituição (agora somam quase 1.500), sendo que ele e os colegas da UFRJ eram os únicos mestres em toda a UEM. Não demorou muito e seu grupo de amigos partiu para diferentes universidades do País, para cursar o doutorado. Ele voltou para o Rio de Janeiro para regressar em 1980 com o título de doutor na bagagem.

[“Visualizando a participação ativa dos alunos em projetos, eu e os outros professores da Engenharia Química buscamos várias fontes de recursos, inclusive na iniciativa privada, que nos deu bons retornos”]

A ‘sede’ por pesquisa e desenvolvimento científico era ainda maior. Mas havia um desafio a vencer: garantir recursos para a pesquisa. Até porque, conforme defende Nehemias, a qualidade do ensino de graduação tem uma relação direta com a consolidação de grupos de pesquisadores.  “Visualizando a participação ativa dos alunos em projetos, eu e os outros professores da Engenharia Química buscamos várias fontes de recursos, inclusive na iniciativa privada, que nos deu bons retornos”. Ele conta com tamanha animação que até parece ter se transportado para “os velhos tempos”. O trabalho foi tanto que antes mesmo da criação do programa de iniciação científica na Universidade, o curso já tinha alunos pesquisando com remuneração, patrocinados por empresas.

Os esforços do corpo docente do curso renderam a criação, em 1990, do primeiro Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Região Sul. “Nem mesmo as universidades federais ofereciam essa modalidade”, conta com orgulho.

[“[...] hoje somos um curso de excelência, com nota 6 na Capes”.]

Daí pra frente o curso não parou. “Continuamos trabalhando, interagindo com outras universidades, recebendo alunos de todo o país e até do exterior”. O resultado disso foi a criação do doutorado, no ano 2000. Pensando no trabalho que desenvolveu em parceria com os colegas do curso, Nehemias reconhece satisfeito: “hoje somos um curso de excelência, com nota 6 na Capes”.

Em termos de trabalho, Nehemias admite que a UEM resume tudo o que ele fez na vida. O professor conta do carinho que sente pela Universidade por proporcionar oportunidades de desenvolver todas as atividades referentes à pesquisa e ensino com grande liberdade. Ele trabalhou em parceria com grandes empresas nacionais e nunca deixou de se envolver com a área industrial, para saber transmitir aos alunos a realidade do campo de trabalho além da Universidade.

Ainda elogiando a UEM, ele diz que mantém projetos com a Petrobrás, por exemplo, que são desenvolvidos em laboratórios instalados na Universidade, com recursos da própria estatal. “Essa interação é ótima, sempre temos equipamentos atualizados, de grande tecnologia”.

O convívio com a juventude, ano após ano, “dá mais vida” para o professor que já orientou mais de cinquenta alunos de mestrado e quase quarenta de doutorado. “Diferente de uma empresa, em que todos envelhecem juntos, eu não envelheci”. As relações com os discentes é significa e se mantém ao longo dos anos, tano é que, anualmente, é feito um reencontro das primeiras turmas do curso. Nessas ocasiões, Nehemias encontra alguns de seus alunos que até já até se aposentaram.

[“Falo isso com brilho nos olhos. Quando você faz o que você gosta, é feliz naquilo que escolheu como profissão”]

São essas interações e experiências proporcionadas pela instituição que o fazem continuar trabalhando, mesmo com a oportunidade de se aposentar há muito tempo. “Falo isso com brilho nos olhos. Quando você faz o que você gosta, é feliz naquilo que escolheu como profissão”.

Ciente de que a merecida aposentadoria não deve estar muito longe, Nehemias rapidamente anuncia: “mas eu não vou parar!” Frase de quem ainda tem muitos novos projetos à vista.