2019 11 20 Aprovada as Cotas Raciais 9430 3

Estudo feito por pesquisadoras da UEM conclui que mídia reconhece relevância da lei para inclusão de negros no ensino superior; trabalho é destaque na Folha de São Paulo

Recente levantamento feito por pesquisadoras da Universidade Estadual de Maringá (UEM) revelou que a maior parte das publicações veiculadas na imprensa brasileira considera que a Lei de Cotas foi fundamental para a inclusão de alunos negros no ensino superior. O estudo, realizado por cientistas ligados ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (Neiab-UEM), foi destaque no jornal Folha de São Paulo.

As pesquisadoras Anna Paula Herrera de Souza e Liége Torresan Moreira fizeram o rastreamento em algumas das principais mídias consolidadas no cenário nacional, a fim de identificar as ideias que têm aparecido nos veículos de comunicação. Foram considerados os portais UOL, R7, G1 e O Antagonista, os jornais Folha de S.Paulo, O Globo e Correio Braziliense e a Revista Fórum. As buscas foram realizadas a partir das palavras-chaves “Lei 12.711”, “Cotas raciais”, “Cotas para negros” e “Lei de cotas”. O trabalho ainda contou com revisão e edição de Lílian Amorim Carvalho.

Foram analisados 75 textos, entre reportagens, notícias e artigos publicados, no formato on-line, entre junho e novembro de 2021. Em uma primeira etapa, as pesquisadoras listaram as informações básicas de cada publicação, como autoria, data, mídia e endereço eletrônico, e identificaram os argumentos, que se referem a trechos específicos de cada texto, de modo que uma mesma publicação poderia ter mais de um argumento.

Os 141 trechos identificados foram então classificados em relação ao assunto (cotas ou outros), questão racial (sim ou não), abordagem quanto às leis de reserva de vagas (se tratava da lei ou de temas correlatos) e tipo de posicionamento (favorável, contrário ou sem posicionamento). 

Na etapa seguinte, foi feita uma análise mais aprofundada dos argumentos, que foram agrupados em doze chaves de leitura, como “abertamente contrário a cotas e negação do racismo”, “efeito das cotas no acesso às universidades, pós-graduação ou concursos públicos”, “exclusão de cotas raciais” e “revisão ou atualização da Lei de Cotas”.

 

Maioria favorável

Dos 141 trechos analisados, 107 se referiam diretamente às cotas e 34 tratavam de outros assuntos, como questões raciais e diversidade, tangenciando ou não a questão da reserva de vagas. Destes 107, 76 eram relativos à questão racial e 75 diziam respeito às leis que tratam de cotas raciais nos concursos públicos federais. Quanto ao posicionamento, 60,7% se mostraram favoráveis, 29% neutros e 10,3% contrários. 

Em relação à classificação por chaves de leitura, as posições contrárias a cotas ou que defendem o fim do critério racial, presentes nas chaves “abertamente contrário a cotas e negação do racismo” e "exclusão de cotas raciais”, apareceram em apenas oito ocorrências, correspondendo a 7,5% do total.

O professor Delton Felipe, supervisor do estudo, opina que logo que a Lei de Cotas foi aprovada, em 2012, era visível um posicionamento, em geral, contrário a ela, especialmente no aspecto racial. “Havia apoio para as cotas sociais, para estudantes de escolas públicas, mas não para o critério de raça. Hoje, dez anos depois, esse cenário mudou”, diz Felipe, que além de docente da UEM é  membro do Neiab e diretor de relações internacionais da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).

“Isso se deve aos resultados obtidos e também porque temos uma discussão maior sobre os impactos do racismo na população brasileira”, continua o professor. Com relação ao levantamento realizado pelas duas pesquisadoras, ele acrescenta que a maioria das reportagens ressalta a relevância da lei para a inclusão de alunos e alunas negros no ensino superior, principalmente nas instituições públicas, e como uma política antirracista.

Segundo ele, as reportagens também mostram que a lei tem pontos que precisam ser aprimorados. Entre eles estão a inserção de alunos e alunas negros em cursos de alta concorrência, como medicina e direito, e a criação de estratégias de permanência nas universidades, como o aumento de professores negros nas instituições. 

Na visão do professor, o estudo, que teve apoio da ABPN e financiamento da Fundação Tide Setubal, pode subsidiar as ações das instituições que atuam pela promoção da igualdade racial e minoração das desigualdades sociais.

“Como estamos em um contexto político adverso a esse tipo de ação, existe a preocupação que a Lei de Cotas venha sofrer depreciação. Nesse contexto, resolvemos verificar como a grande mídia está pensando essa questão. O levantamento mostrou que, hoje, ela se posiciona a favor das cotas e do aspecto racial como estratégia para combater o racismo e diminuir as desigualdades raciais e defende a sua continuidade” sintetiza o supervisionar da pesquisa.

 

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Para saber mais:

Para acessar o relatório completo do levantamento clique aqui.