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UEM reconhece relevantes serviços prestados por ele, que continua dando aulas voluntariamente na universidade

“Trabalho mesmo aposentado, porque isto mantém a cabeça funcionando e também porque sinto que ainda estou sendo útil. Prefiro esquecer frustrações com novas realizações!”. Este é Adelar Bracht, 73 anos, que concluiu o pós-doutorado em Ciências Biológicas na Universidade McGill, no Canadá, em 1987. Agora, recebe o título de professor emérito (bastante conhecedor em uma ciência) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde ingressou como servidor em 1976, passou por cargos de gestão e continua dando aulas voluntariamente, mesmo estando aposentado desde 2014.

Bracht é um dos pioneiros nas pesquisas com estévia, adoçante natural de baixa caloria que tem US$ 4 bilhões em valor de mercado. É biólogo, mestre e doutor em Bioquímica, sendo que fez o doutorado na Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha. “O título de professor emérito representa uma gratificação pessoal. Com a concessão, sinto-me premiado pelas iniciativas que tomei na hora certa, quando a UEM precisava delas. A bem da verdade, pude tomar as iniciativas que tomei porque havia lacunas: na UEM não tinha pós-graduação stricto sensu, a pesquisa era incipiente”, relembra Bracht, que foi coordenador e fundador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PBC) – o primeiro da UEM, fundado em 1987.

Dentre diversos prêmios e homenagens públicas já recebidos por seus relevantes serviços prestados à Ciência, Bracht venceu o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia em 2002. “Preenchi vazios, outros poderiam ter feito isto e de fato vários fizeram coisas parecidas. Outros da minha idade não o fizeram, no entanto, apenas acompanharam os desenvolvimentos. Creio que o título de professor emérito serve para premiar os que tomaram as iniciativas necessárias a cada momento do desenvolvimento histórico de uma instituição”. Bracht já orientou mais de 20 dissertações de mestrado e mais de 20 teses de doutorado. É coautor em 285 artigos científicos e 23 capítulos de livros.

Bracht é professor aposentado do Departamento de Bioquímica (DBQ), voluntário nos programas de pós-graduação em Bioquímica (PBQ) e em Ciência de Alimentos (PPC) e bolsista 1A de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É um dos pesquisadores mais produtivos de toda a UEM, com estudos que abordam metabolismo de mamíferos e de fungos, bioenergética, enzimologia (estudo de enzimas), bioquímica farmacológica e endócrina, e fenômenos de transporte.

Saiba mais – O título de professor emérito foi concedido a Bracht por meio da Resolução 1/2021 do Conselho Universitário (COU). “Agradeço muito aos que tomaram a iniciativa de encaminhar a solicitação ao Conselho Universitário”, diz ele. Outros professores eméritos da UEM são Carlos Alberto Conrado, que assessorou a implantação da graduação em Odontologia, e José James da Silveira, um dos que formaram a comissão que batalhou para a criação da UEM, hoje sexta melhor universidade estadual do Brasil e reconhecida por ser pública, gratuita, de qualidade e inclusiva.

 

Conheça melhor Adelar Bracht

 

Reportagem: Quem foram os maiores incentivadores para o senhor seguir na carreira acadêmica?

Adelar Bracht: Houve vários professores durante a graduação que me influenciaram, mas creio que o professor Wladimir Cavallar Kavaleridze merece a palma. Era ucraniano, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) no meu tempo, mas com longa carreira na Europa e norte da África. Não segui a especialidade dele, que era Ciência do Solo, mas o estilo e o modo como agia tiveram grande influência. Esforçava-se muito para falar português e nem sempre era bem compreendido pela maioria dos alunos. Mas, o seu laboratório, para quem quisesse, era um refúgio aconchegante num tempo em que não havia nada parecido com bolsa de iniciação cientifica e a pós-graduação stricto sensu era uma raridade.

 

Qual é a importância da profissão de docente e pesquisador para o desenvolvimento da sociedade?

O docente e pesquisador é um profissional tão indispensável quanto qualquer outro. Experimente ficar sem lixeiros por duas semanas! Claro, ser docente e pesquisador exige uma formação aprimorada e, uma vez estabelecido na sua profissão, espera-se que o pesquisador ensine, eduque e crie conhecimentos. Assim, os produtos da atividade do professor/pesquisador são pessoas capacitadas e ampliação do conhecimento. Sendo assim, eu diria que o docente e pesquisador é um trabalhador que faz parte de uma cadeia de atividades indispensáveis ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Mas, eu me recusaria a estabelecer um ranking hierárquico atribuindo a uns ou a outros relevâncias maiores ou menores.

 

Como fundador do PBC da UEM, qual é a satisfação em ver o programa se desenvolvendo cada vez mais?

A fundação deste programa foi um divisor de águas para a UEM, inclusive porque estimulou vários grupos a fazer o mesmo. Mas, alguém tinha que dar o primeiro passo. O PBC evoluiu muito bem, muitos atuais docentes da UEM e de outras instituições receberam ali sua formação cientifica. Eu não pertenço mais ao corpo docente deste programa, e embora deseje todo o sucesso possível ao PBC, meus esforços agora estão sendo dirigidos em colaborar com a consolidação do PBQ, que representa, no meu entender, muito melhor as expertises dos docentes mais jovens do Departamento de Bioquímica. O PBC tornou-se excessivamente multidepartamental. Por isto, o PBQ é um campo muito mais apropriado para o aprimoramento e a integração dos vários níveis de ensino de Bioquímica, principalmente porque tem também uma conexão direta com o bacharelado em Bioquímica. Espero ardentemente que a nova geração saiba aproveitar esta oportunidade!

 

Em meio à descrença na Ciência e à falta de investimentos em Educação, ainda vale a pena ser professor?

Vale a pena ser professor, sim; para mim, pelo menos, valeu. Acredito que faria mais ou menos a mesma coisa que fiz quando entrei para o ensino superior. Acredite-me, era bem pior em 1969 e continuou sendo por uma década mais ou menos. Naquela época, trabalhar no ensino superior era um “bico”, excetuadas algumas instituições de ponta. De modo que as coisas progrediram, não tanto quanto seria desejável, mas houve progresso. O atual regime “brucutiano” pode nos levar – muitos dizem que já está nos levando – de volta ao passado. Precisamos reagir!