Laboratorios UEM 4523As concessões foram feitas pelo INPI e são resultado de anos de pesquisa. No total a Universidade acumula 30 patentes

Talvez você não saiba o que são embalagens multicamadas, mas certamente elas estão presentes no seu dia a dia. Onde? Nos pacotes de salgadinhos, biscoitos e café ou ainda nas embalagens de chocolate, só para citar alguns exemplos. A facilidade de operacionalização e a boa capacidade de conservação dos alimentos contribui para que elas sejam muito utilizadas, gerando impacto ambiental. É que o processo de reciclagem destas embalagens não é simples e elas acabam acumulando-se nos lixões e nas indústrias. A UEM desenvolveu uma tecnologia inovadora capaz de solucionar o problema através da reciclagem mecânica de embalagens multicamadas, um processo relativamente simples, rápido e econômico.

Fruto da pesquisa de doutorado da professora do Departamento de Engenharia Mecânica, Silvia Luciana Fávaro Rosa, o estudo resultou na concessão de uma carta-patente para a Universidade, publicada em junho último pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). As pesquisas tiveram início há mais de dez anos, quando a professora ainda era aluna do Programa de Pós-Graduação em Química da UEM.

Esta foi uma das onze concessões feitas até aqui em 2020, sendo que há a iminência do anúncio de outras patentes ainda este ano. O professor Luiz Fernando Cótica, diretor de Pesquisa e coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica da UEM (NIT) conta que a Universidade acumula ao longo da sua história a concessão de 30 cartas-patente, das quais 28 estão vigentes e duas já são de domínio público. “Além disso, temos quatro pedidos deferidos, apenas aguardando a concessão do INPI”.

Muitas das conclusões oriundas destas pesquisas acadêmicas poderiam gerar benefícios para a sociedade, a partir dos processos de transferência de tecnologia. Tomando como base o estudo da professora Silvia Rosa, por exemplo, as embalagens multicamadas poderiam ser reaproveitadas na produção de para-choques e outras peças internas para veículos, ao invés de pararem nos lixões. Isso porque o processo de reciclagem desenvolvido pela cientista resulta na produção de um material de alta resistência ao impacto e com diversas aplicações. “Todo o processo é mecânico, sem utilização de reações químicas e, portanto, além de ser economicamente vantajoso, não gera resíduo”, afirma a pesquisadora.

Novo medicamento

Do mesmo modo, a invenção de um inédito composto de base natural, cujos testes indicaram alta eficiência no combate ao protozoário causador da Leishmaniose, seguramente poderia entrar na linha de produção de um medicamento novo com vantagens sobre os fármacos utilizados hoje.

A pesquisa neste caso, que também foi contemplada com uma carta-patente, concedida em outubro deste ano, foi realizada com a participação de pesquisadores da UEM e da Universidade Federal de Goiás (UFG), combinando química experimental com avaliação de atividade biológica. A substância encontrada é uma tiossemicarbazona, usando como matéria-prima de síntese o S-(-)-limoneno, um composto natural presente nas cascas de frutas cítricas como limões, laranjas e tangerinas. 

Cleuza Conceição da Silva, doutora em química e atualmente professora aposentada da UEM, conta que a gênese desta patente foi um composto pesquisado durante seu doutorado. Os estudos ganharam volume com a participação de vários mestrandos e doutorandos orientados por ela, além da participação do professor Celso Nakamura, que coordenou a parte de testes de atividade das moléculas, e das pesquisas desenvolvidas pela professora Cecília Maria Alves de Oliveira, da UFG. São muitos anos de estudos acumulados considerando desde aquele composto de partida no doutorado da professora Cleuza, em 1995, até o depósito do pedido de patente, em 2011. Soma-se aí mais nove anos para a concessão da patente.

“Os novos agentes antileishmania demonstraram baixa toxicidade para as células do organismo de mamíferos em relação ao tratamento convencional da Leishmaniose, que utiliza fármacos altamente tóxicos. As moléculas, que são de fácil produção e matéria-prima de baixo custo, também se mostraram eficazes na inibição do protozoário, equiparado às drogas utilizadas nos tratamentos convencionais”, explica Cleuza Conceição, destacando que existe forte demanda por novos fármacos que possam ser administrados por via oral e que apresentem menor toxicidade e menor duração de tratamento.

Transferência de tecnologia

Gerar inovação a partir da transferência de tecnologia produz ganho também para a instituição de pesquisa, incluindo a possibilidade de compensação financeira, estimulando ainda mais o avanço da ciência e tecnologia. Para Cótica há muito a ser feito para alcançar tais resultados entre as universidades públicas do Paraná que ainda enfrentam dificuldades para regulamentar o recebimento de royalties ou quaisquer benefícios financeiros resultantes da exploração decorrentes da proteção da propriedade intelectual.

Essa é uma discussão que, segundo o coordenador do NIT, tem sido feita nos últimos dois anos, inclusive com a participação de representantes dos NITs das universidades e de um grupo de trabalho da área jurídica que vem propondo soluções para diferentes problemas legais que envolvem a questão. “Enquanto não houver legislação específica as universidades continuarão enfrentando dificuldades na hora de receber por seus inventos”, resume o diretor.

Para dar aos pesquisadores mais suporte no que tange à proteção da propriedade intelectual e transferência de conhecimento, o NIT da UEM pretende atuar como uma instância de planejamento e ação estratégica para facilitar a interface com o mercado. Em linhas gerais esse apoio visa criar caminhos através de modelos de negócios para vencer o grande desafio que é aplicar a ciência e o conhecimento no mercado.

Destacando que inovação se dá somente quando a tecnologia é colocada à disposição da sociedade, o professor Marcelo Farid, assessor de Inovação Tecnológica da UEM, fala sobre a importância de defesa da propriedade intelectual aliada ao empreendedorismo com vistas a um processo eficaz da transformação do conhecimento científico em produto, serviço ou processo.

Segundo ele, na UEM há um trabalho sendo feito para apoiar as iniciativas de inovação e desenvolvimento de competências empreendedoras.  “A proposta é fazer o mapeamento destas competências e criar oportunidades para que parcerias possam ser firmadas. Nosso trabalho foi, em parte, interrompido com a pandemia, mas a retomada está sendo feita aos poucos”, afirma. Sobre as patentes já concedidas, Farid destaca que pretende formatar um portifólio de negócios para facilitar a transferência da tecnologia para o mercado.

 

Relação das patentes concedidas em 2020

Acesse os links para saber mais sobre cada uma

1.    Processo desenvolvido para a obtenção de carvão ativado modificado com a combinação de nanopartículas de prata e cobre inativadoras de vírus existentes na água

 2.    Secador Térmico por fuso aquecido

 3.    Máquina para perfuração horizontal de solo

 4.    Reciclagem mecânica de embalagens multicamadas

 5.    Triturador e compactador de poliestireno expandido

 6.    Gerador de ozônio modular operando em alta frequência com controle digital

7.    Formulação lipossomal com o fármaco nistatina

 8.    Tiossemicarbazonas incorporadas ao S-(-)-Limoneno com atividade antileishmania

 9.    Processo de fabricação de pavimentos, placas ou mapas táteis de aço maraging magnéticos radioluminescentes para sinalização de áreas de risco e emergência de pessoas com deficiências em plantas nucleares

 10. Dispositivo portátil funcional para dessorção e ionização de partículas por sistema de nebulização e auto bombeamento via efeito venturi

 11. Formulação para estabilização do ascorbato de sódio disperso em matriz polimérica de carbômero 934P para remoção do oxigênio residual do esmalte dental recém- clareado