Nesta quinta-feira, dia 23, às 21h30, a UEM-FM vai exibir a Missa de São Jorge da Capadócia. Trata-se de uma obra sonora, um oratório composto pelo professor do Departamento de Música (DMU), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Marcus Alessi Bittencourt. Concluída em 2015, a obra é dedicada a São Jorge, um dos santos mais venerados nas tradições católicas tanto ocidentais como orientais.

Soldado no exército do imperador romano Diocleciano no século III, São Jorge morreu como mártir cristão e é notório nas narrações da época por ter sobrevivido miraculosamente ileso a um variado e terrível rol de torturas. Exatamente por isso, São Jorge é celebrado por suas habilidades como defensor e protetor, sendo padroeiro de diversos países e localidades do planeta.

O roteiro da missa em sua homenagem foi preparado pelo professor Marcus Alessi, com base na Missa Tridentina tradicional em latim eclesiástico, à qual foram acrescidos diversos outros elementos não-ortodoxos, como algumas leituras do Evangelho de Tomé, um livro apócrifo do Novo Testamento, que foi redescoberto recentemente em papiros antigos datados das primeiras comunidades cristãs. O Evangelho de Tomé consiste de uma lista de 114 dizeres atribuídos a Jesus. “Muitos destes dizeres são semelhantes àqueles encontrados nos evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, mas muitos eram desconhecidos até a descoberta dos papiros”, explica Alessi.

Outro elemento incluído no roteiro da Missa é um texto do filósofo do século 17 Benedito Espinoza, o Escólio da Proposição 41, da Quinta Parte de seu livro Ética, que foi escolhido como sermão, lido em seu latim original. Ainda há traduções especiais para o latim realizadas pelo professor da UEM e latinista Aécio Flávio de Carvalho. “O professor doutor gentilmente verteu para o latim as leituras do Evangelho de Tomé e a famosa oração de São Jorge, tão conhecida e celebrada em língua portuguesa aqui no Brasil”, acrescentou o professor do DMU.

A obra – A peça é uma obra eletroacústica acusmática, ou seja, realizada para ser exclusivamente apresentada por meio da projeção acústica de alto-falantes, quer em um teatro quer por meio radiofônico como no caso deste concerto realizado pela UEM-FM. Foi criada a partir da mixagem de milhares de sons pré-gravados, que incluem desde sons de notas esparsas de instrumentos musicais, ruidagens e efeitos sonoros, até as próprias sessões de leitura dos textos do roteiro, que foram realizadas durante quase uma década com o auxílio de um grande número de voluntários anônimos.

“O projeto de espacialização da Missa de São Jorge desenvolve também algo como um contraponto de percepções de espaço e de alto-falantes virtuais, que ajudam a criar no ouvinte uma sensação de um ambiente sonoro que tenta evocar de maneira fantasiosa as reverberações ouvidas nas catacumbas utilizadas pelas comunidades cristãs mais antigas. Outra característica interessante é que esta obra utiliza um sistema musical microtonal criado e desenvolvido especialmente para esta composição. A microtonalidade é a utilização de notas musicais de alturas que ficam "no meio do caminho", por assim dizer, do espaço existente entre as tradicionais doze notas da tradição ocidental, e que assim propõem basicamente um sistema novo de afinação”, ensina Marcus Alessi.

A Missa tem 1h25 de duração e é estruturada em cinco partes: a primeira parte, Ritos Iniciais compreende uma procissão de entrada e o Kyrie; a segunda parte, Liturgia do Verbo, inclui as sessões de responsório, diversas leituras de Evangelhos e o sermão; a terceira parte, o Credo, utiliza os mistérios do rosário para apresentar um resumo da vida de Cristo; a quarta parte, Liturgia Eucarística, contém os ritos tradicionais tridentinos da Eucaristia; e a quinta parte, Ritos de Conclusão, compreende a despedida dos fiéis e uma procissão de saída. Ao final de cada uma das quatro primeiras cenas, um coro recita uma pequena estrofe compilada a partir de versículos esparsos retirados do Novo Testamento, que serve de lema geral para a obra.

O autor - Marcus Alessi Bittencourt (foto) é brasileiro, nascido nos Estados Unidos, doutor e mestre em Composição Musical pela Universidade Columbia de Nova York e bacharel em piano pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Foi discípulo de compositores como Willy Corrêa de Oliveira, Fred Lerdahl, Joe Dubiel, Brad Garton e Thanassis Rikakis.

Como compositor, é atua tanto no campo instrumental como no eletroacústico e a sua música tem sido executada nos Estados Unidos, Canadá, Europa e Brasil. Sua lista de obras inclui peças para orquestra, grupos de câmara, coro, instrumentos solistas (com destaque para o piano), óperas, além de diversas obras eletroacústicas. Tem se apresentado frequentemente como pianista, regente e difusor de obras eletroacústicas, muitas vezes, realizando estas funções, simultaneamente, como é o caso de seus diversos concertos para piano e sons eletroacústicos.

Dentre os prêmios que recebeu estão dois Prêmios Funarte de Composição Clássica em 2012 e 2010, o primeiro prêmio no Projeto Nascente V, de 1996, e uma bolsa de estudos da fundação americana Andrew Mellon para realizar pós-graduação na Universidade Columbia, em Nova York.

Marcus Bittencourt é, atualmente professor associado de Composição, Teoria e Computação Musical, no Departamento de Música da UEM, onde criou e também coordena o Laboratório de Pesquisa e Produção Sonora.