A parceria entre o Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM) e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) para a efetivação do projeto que visa à produção do biofármaco bevacezumabe na cidade foi tema de reunião entre diretores do hospital, professores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e representantes do instituto na manhã desta quarta-feira, dia 20. A visita dá sequência à conversa iniciada em julho, em Curitiba, ocasião em que o reitor Julio Santiago Prates Filho assinou uma carta de intenções para a participação da UEM no estudo clínico fase 3 do medicamento, uma vez que o Núcleo de Pesquisa Clínica do HUM é o único do Paraná que integra a Rede Nacional de Pesquisa Clínica (RNPC).  

Além de virem à Maringá para conhecer o núcleo do HUM, o economista Rodrigo Silvestre, assessor técnico da presidência e Raquel Sanson, engenheira de bioprocessos do Tecpar, apresentaram aos presentes o atual estágio das negociações entre Tecpar e Biocad Brazil e as necessidades técnicas que possibilitarão ao instituto atender a demanda do Ministério da Saúde para a produção do bevacezumabe, medicamento indicado para o tratamento de câncer e degeneração macular (perda de visão) relativa à idade. Anualmente, o Brasil gasta R$ 177 milhões com a importação do medicamento, cuja marca comercial era patenteada pelo laboratório suíço Roche.  

Sergio Yamada, docente do Departamento de Medicina e um dos responsáveis pelo Núcleo de Pesquisa Clínica do HUM, explicou o funcionamento do núcleo e a rotina de trabalho dos profissionais e acadêmicos envolvidos. Para ele, o fato do HUM participar da RNPC desde 2009 credencia e qualifica a parceria com o Tecpar. “Podemos somar muito ao projeto porque trabalhamos em conjunto com outros centros e seus pesquisadores”, avalia. A RNPC é formada por 32 núcleos de pesquisa, dos quais cinco estão na região sul, incluindo o do HUM.  

Para a efetiva implantação do projeto em Maringá, no entanto, as necessidades do Tecpar ultrapassam os limites do hospital. Até 2016, ano em que o medicamento produzido no Brasil deverá ser colocado à venda, os profissionais de alto nível técnico que estarão trabalhando no laboratório poderão ser egressos da UEM. “O desenvolvimento da universidade está diretamente ligado ao desenvolvimento do nosso município. O desejável é que não seja preciso importar profissionais, pois temos todas as condições de formá-los aqui”, diz Magda Félix, superintendente do HUM.  Silvestre partilha da mesma opinião. “Um projeto grandioso como este só tem sentido se puder contar com parceiros qualificados capazes de promover o desenvolvimento local. Senão, bastaria apenas comprar o produto, envasar e vender mais barato para o ministério”, afirma. Além do bevacezumabe, a fábrica maringaense deverá produzir outros biofármacos.    

Pelos termos do acordo firmado na parceria para o desenvolvimento produtivo (PDP) entre Tecpar e Biocad Brazil em julho, na Rússia, a produção local do bevacezumabe pelo Tecpar implica na transferência de tecnologia, que deve começar com a capacitação de pessoal até a produção do medicamento.  

Biotecnologia - Os produtos biológicos são mais eficazes em relação aos medicamentos tradicionais de síntese química, aumentando as possibilidades de sucesso no tratamento, principalmente para doenças crônicas. Eles são feitos a partir de material vivo e manufaturados a partir de processos que envolvem medicina personalizada e biologia molecular. Atualmente os biológicos consomem 43% dos recursos do Ministério da Saúde com medicamentos, cerca de R$ 4 bilhões por ano, apesar de representarem 5% da quantidade adquirida. Atualmente, o Brasil já produz, via transferência de tecnologia, 14 biológicos para doenças como hemofilia, esclerose múltipla, artrite reumatoide e diabetes. De acordo com o Ministério da Saúde, até 2017 estes produtos terão fabricação 100% nacional.